Muito tem se falado em procrastinação nos últimos anos. E normalmente quando esse tema é abordado a procrastinação vem associada à preguiça ou desorganização. Mas pode ir muito além disso!
Se buscar o significado da palavra "procrastinar" vai encontrar no dicionário: "transferir para outro dia ou deixar para depois; adiar, delongar, postergar, protrair". E a pergunta que precisa ser feita antes de qualquer coisa é: por que procrastinamos?
Muitas vezes a procrastinação é reflexo de uma gestão do tempo desordenada (ou inexistente), e de áreas da vida desorganizadas. Assim como muitas vezes também costuma aparecer como hábito de pessoas que evitam se comprometer com qualquer coisa que exija responsabilidade, ou até mesmo costumam nutrir um comportamento preguiçoso. Mas precisamos ter cautela e cuidado com as generalizações e as "receitas" para "acabar" com ela, pois procrastinação é diferente de preguiça.
O que pouco se fala nas redes sociais é que procrastinação pode também ser sintoma de diversas condições emocionais, como ansiedade, depressão, e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
A procrastinação pode atuar como um auto sabotador, sendo ativada de modo inconsciente, como uma maneira do sujeito se "prejudicar" não conseguindo colocar em prática coisas que o deixariam mais próximo dos seus objetivos. E pode ainda surgir como resultado de outros fatores como, por exemplo o medo do fracasso, do perfeccionismo e até mesmo da falta de motivação.
Em todos os casos pontuados até aqui, as razões e o que desencadeia o processo de procrastinação, precisam ser investigados e tratados através de um processo terapêutico, por exemplo, para que esse ciclo seja de fato clareado e quebrado.
Por isso é tão importante entender que a procrastinação não é apenas preguiça, e sim muitas vezes um indicador de questões emocionais muito maiores. Então antes sair se cobrando para colocar em prática "receitas mágicas" para vencer a procrastinação, canalize a sua energia para olhar verdadeiramente para você e identificar o porque de a procrastinação estar fazendo morada por aí.
Por fim, mas não menos importante, não tenha vergonha ou medo de buscar ajuda profissional para lidar com a procrastinação também!
- Foco nas falhas e no que falta: vivemos em uma sociedade onde nunca nada é o suficiente. Crescemos ouvindo a clássica: o que vai ser quando crescer? Nos tornamos adolescentes e somos cobrados sobre a chegada do "namoradinho(a)". Ele(a) chega, e nos cobram casamento. Casamos e o primeiro filho passa a ser exigido, depois dele o irmãozinho. E assim por diante... é uma eterna insatisfação e cobrança. O que ocorre é que muitas vezes o sujeito que traz enraizadas crenças que alimentam a autossabotagem, passa a agir desta forma com si mesmo. Age como se nenhuma conquista fosse suficiente ou que merecesse ser comemorada. Os olhos sempre se voltam para o que o falta, impedindo que essa pessoa viva o presente e desfrute daquilo que é seu, e que está ali.
- Não merecimento e não reconhecimento: a pessoa dá tamanha ênfase para suas falhas que não sobra espaço para perceber aquilo que "deu certo". E com esse comportamento passa a alimentar ainda mais o ciclo da autossabotagem, reforçando o pensamento de que não merece e não consegue nada além do fracasso. Não se autoriza a se apropriar dos próprios méritos e conquistas. Sabe aquela pessoa capaz de fazer listas quilométricas de defeitos, mas que trava na hora de nomear qualidades?
- Necessidade de reforço e aprovação: a expectativa de que os outros vejam e verbalizem sua opinião sobre que faz está presente o tempo todo. A pessoa age sempre aguardando a aprovação e a autorização do outro, e sem perceber deposita o mérito pelos seus resultados e até mesmo sua autoestima nas mãos dos outros.
- Necessidade excessiva de controle: é simplesmente impossível controlar tudo o que acontece ou vai acontecer. A fantasia do controle absoluto atua como sabotadora, uma vez que cada vez que a pessoa se depara com uma situação que "foge do seu controle", que não sai exatamente como o planejado, acaba se frustrando. E isso faz com que se desanime para tentar novamente ou até mesmo para fazer outras coisas. Planejamento é muito importa e pode ajudar muito para construção de uma rotina organizada, e para o alcance de metas. Mas não podemos esquecer que é um plano, logo pode ser ajustado e imprevistos sempre podem acontecer.
- A grama do vizinho: conhece aquele ditado bem clichê de que "a grama do vizinho sempre é mais verde"? Pois bem, esse é quase que um lema no ciclo da autossabotagem. Existe uma necessidade imensa de se comparar e sempre se colocar em um lugar de inferioridade nesta comparação. Talvez a grama do vizinho esteja mais verde, porque você está cuidando da dele e não da sua! Cada pessoa tem um ritmo, uma história, uma carga emocional e uma realidade. E por isso não são justas as comparações.
- Analise seus comportamentos: não temos como mudar algo que não nos damos conta de que está nos fazendo mal. Por isso é fundamental que você esteja atento aos seus comportamentos e àquilo que você sente. Invista em autoconhecimento, e ao invés de investir energia se comparando com outras pessoas, busque olhar para você.
"Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra pessoa é hoje" (Jordan Peterson)
- Metas: seja prudente e realista no momento de traçar suas metas. Análise sua realidade, pense no tempo que realmente é necessário para realizar cada ação, faça planejamentos, e não esqueça que existem muitas coisas que você não pode controlar neste percurso.
- Organização: não viva com o senso de urgência no comando. Procure manter uma rotina organizada, sempre lembrando que imprevistos podem acontecer, e que um pouco de flexibilidade não faz mal a ninguém.
- Fuja da procrastinação: existem coisas que por mais que você não goste vai ter que fazer. Faça na hora que precisa ser feito. Entenda que cada vez que você posterga uma tarefa, ela vai seguir ali pesando seu dia até que seja concluída.
- Assuma o que é seu: não tenha medo de se apropriar de seus méritos e de suas conquistas. E também não deposite a responsabilidade que é sua nas mãos de outra pessoa. Você pode (e deve) ter uma rede de apoio, formada por pessoas que caminhem JUNTO com você. Mas lembre-se de que ninguém poderá caminhar POR você.
- Busque ajuda profissional: nem sempre é fácil quebrar esse ciclo sozinho. Um profissional pode lhe ajudar neste processo, auxiliando na identificação e entendimento sobre seus comportamentos, e na origem deles. Encontrando e construindo assim forma de performar de maneira mais saudável e ajustada.
Não há dúvidas de que as redes sociais e a tecnologia vieram com o propósito de facilitar nossas vidas e nossa comunicação.
Desde o início da pandemia nos deparamos com muitos serviços que passaram a ser disponibilizados no formato online. Alguns já eram oferecidos desta forma antes mesmo de 2020, mas ali ganharam destaque e a demanda cresceu bastante, já que o distanciamento social exigia adaptações.
Com os atendimentos psicológicos não foi diferente. Os atendimentos online já eram reconhecidos e normatizados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) desde 2012, e em 2018 as orientações foram atualizadas. Hoje para atendimentos online, além de seguir as orientações do CFP, os preceitos do Código de Ética Profissional da Psicologia, e manter registro ativo junto ao Conselho, os profissionais precisam se cadastrar no E-Psi também junto ao CFP.
Mas quando o assunto é terapia, muitas pessoas questionam: é melhor atendimento online ou presencial?
E não temos uma resposta certa aqui, que se aplique à todos os casos. Vamos ver juntos aqui alguns pontos que precisam ser avaliados no momento de fazer a escolha do formato que melhor lhe atende.
O primeiro ponto a ser avaliado é a escolha do profissional: antes mesmo de escolher o formato no qual seu processo terapêutico vai se dar, é preciso escolher o profissional que irá lhe acompanhar. Busque um profissional qualificado, certifique-se de que ele tem a formação e competências necessárias para atuar, questione sobre a linha teórica que ele segue para analisar se corresponde com o que você busca, e confie em quem vai caminhar ao seu lado neste processo. Aqui tomo emprestadas as palavras de Gabriel Rolón para falar um pouco mais sobre o papel do profissional (em especial sobre a ótica da Psicanálise, mas que pode ser aplicada à Psicologia também com algumas adaptações): "a psicanálise é uma viagem que tem a angústia como ponto de partida e a descoberta de sua origem como destino final. [...] O viajante recebe o nome de paciente e o companheiro de viagem é o seu analista. [...] o profissional não é um acompanhante silencioso, os dois são ao mesmo tempo timoneiro e remador, barco e mar". Por isso, é fundamental que confie e sinta-se seguro com o profissional que escolher. Afinal é ele que vai caminhar com você, ele será seu companheiro de viagem!
Outro ponto fundamental é perceber como você se sente com o formato escolhido: nem todas as pessoas se sentem a vontade em um consultório de psicologia, assim como nem todas as pessoas se sentem seguras e/ou a vontade para lidar com as telas. E aqui cabe ressaltar algumas coisas muito importantes para lhe auxiliar na tomada de decisão: como mencionamos anteriormente tanto os atendimentos presenciais, quanto os atendimentos online são regulamentados pelo CFP, e irão seguir com os mesmos preceitos éticos, técnicos e de eficácia. Saiba que a terapia (presencial ou online) é um espaço seguro e livre de julgamentos para falar e sentir. Avalie como você se sente mais a vontade e faça sua escolha. Além disso, caso sinta necessidade de mudar o formato no decorrer do processo converse com seu psicólogo, sem receios.
Os atendimentos no formato online, facilitam bastante o acesso à profissionais que não atendam em sua cidade ou região, não exigem deslocamento (o que pode ajudar bastante) e trás a possibilidade de ser atendido onde estiver, sem a necessidade de interromper seu processo em caso de mudanças ou viagens, por exemplo. Para isso no entanto é preciso que você tenha uma boa conexão de internet, e um lugar em que se sinta seguro, e garanta privacidade, evitando interrupções e distrações durante o tempo de sessão. Vale ressaltar também que existem algumas restrições e alguns casos onde não são recomendados atendimentos de modo online, mas um bom profissional conseguirá lhe orientar em relação a isso já no início do processo.
Já na modalidade presencial, facilita muito para as pessoas que não se sentem a vontade com atendimentos online, ou pessoas que possam ter alguma dificuldade de acesso a internet. Além disso, o ambiente vai estar pronto para lhe receber, já prevendo as questões de privacidade, interrupções e distrações.
A duração do processo psicoterapêutico, independente da modalidade, varia de acordo com a sua demanda (qual seu objetivo com o processo ou que que você está buscando), da forma como vai evoluir no decorrer do processo e da escola teórica que orienta a atuação do profissional escolhido. O tempo cada sessão, seja ela presencial ou online, normalmente dura em torno de 45 minutos.
Por fim, mas não menos importante, é fundamental que você esteja disposto e comprometido com seu processo terapêutico. Lembre-se que é um processo, e não vai funcionar como mágica. Muitas coisas ali poderão ser ressignificadas, outras tantas resgatas. É um processo de construções e desconstruções. Certamente vão haver algumas sessões que vão ser mais leves e outras mais difíceis por tocar em feridas que ainda doem.
Se você vem encontrando dificuldade em lidar com suas emoções e angústias , se você busca um espaço que propicie possibilidade para autoconhecimento e um olhar mais leve, ou ainda se você simplesmente entendeu a importância de cuidar de você e da sua saúde mental o processo terapêutico é para você! Busque um bom profissional e certamente ele vai lhe ajudar a escolher a melhor modalidade para atendimento. Se comprometa com seu processo e certamente vai perceber diferenças na sua vida.
Vale presencial e vale online, só não vale deixar de cuidar de você.
Ficou com alguma dúvida ou está em busca de um profissional para lhe acompanhar neste processo? Me chama e vamos conversar. Vai ser uma alegria ajudar você!
Quando o mês de maio chega, as redes sociais e as vitrines costumam ser recheadas pela palavra "mãe". É presente para mãe, é o mês das mães, é homenagem para mãe, e por aí vai. Mas mãe e maternidade não são, e aqui começa nossa reflexão.
Certamente você já ouviu muitas vezes o termo “instinto materno”, bem como já deve ter ouvido outras tantas vezes o termo “empatia”. O “instinto materno” para se referir à aquele amor automático e intenso que surge na mulher assim que se vê gestante, ou ao olhar para o filho que nasce, sobre tudo aquilo que ela sabe desde sempre que precisa fazer para cuidar de um bebê, e ainda sobre o que vai obrigatoriamente desencadear o desejo de ser mãe em todas as mulheres em algum momento da vida para que assim se sintam completas e realizadas. E a “empatia” como aquela clássica do “se colocar no lugar do ouro como se fosse o outro”. Pois bem, quero aqui lhes perguntar onde foi parar a empatia quando olhamos o que estamos fazendo ao impor a manutenção do mito do instinto materno?
Sim! O instinto materno é um mito, criado para alimentar a romantização da maternidade e sustentar uma sociedade patriarcal, onde os homens precisam procriar e seguir vivendo, e mulheres precisam necessariamente ser mães e cuidar dos filhos para que os homens cuidem de suas vidas.
E aqui lhes trago algumas coisas para pensarmos
sobre a criação deste mito.
Hoje temos vários estudos científicos buscaram
investigar os mecanismos psicológicos, culturais e fisiológicos que movem uma
mulher a se dedicar de modo tão incondicional aos filhos, e cada vez mais
encontramos indicativos de que não se trata de instinto, de algo fisiológico, e
sim de uma construção psicológica e cultural.
Dentre estes estudos, Gosto de uma definição acerca do instinto materno
que a psicóloga Maria Tereza Maldonado, nos traz: “O instinto materno seria
verdadeiro se a mulher tivesse em seu equipamento biológico algo que a levasse
a amar automaticamente seu filho. E ela não tem. Algumas mulheres pensam ter,
porque começam a amar seu filho ainda na gestação, se encantam só de pensar em
tê-lo”. No entanto, o amor é construído no seu psiquismo. O mesmo mecanismo
afetivo que acontece nas adoções, por exemplo. Para ela, “o amor precisa ser
gestado”, isto é, precisa ir sendo construído e nutrido pouco a pouco.
Alimentar o mito do instinto materno é anular o
fato de que querer ser mãe diz da ordem do desejo, e não de uma necessidade fisiológica.
Certamente você já ouviu, ou até mesmo já se pegou dizendo
uma frase dessas em algum momento: “E os filhos vem quando?”; “Quando você vai
ser mãe?”; “Como assim você não quer ser mãe?”; “Por que você não quer ter
filhos?”; “E se você se arrepender depois?”; “Que egoísmo não querer ter filhos”.
É aqui que pegamos a nossa empatia e a jogamos sabe-se lá para onde!
Ignoramos a história de vida de mulheres que muito
sonham e desejam ser mães, e não conseguem. Passam muitas vezes por anos
tentando engravidar sem sucesso, e carregam feridas emocionais gigantes por
isso. Se sentem incapazes, anormais (porque se o instinto materno existe, ser
mãe é algo natural, e logo elas “não funcionam” como deveriam).
Anulamos a história de vida de mães adotivas, que movidas
pelo desejo, escolheram ser mães e amam seus filhos gestados na lista de espera
pela adoção.
Ridicularizamos a história de vida das madrastas,
que muitas vezes acolhem e cuidam de filhos que não foram por elas gerados, mas
escolhem amá-los e cuidá-los como se fossem seus. E que precisam ainda enfrentar
o preconceito gerado por outro mito criado socialmente, o de que toda madrasta
é má, e vai odiar seus enteados.
Jogamos no lixo a história de vida de famílias construída
de “recasamentos”.
Invalidamos a história de vida de mulheres que decidem
não ser mães. As colocando em um lugar marginalizado, de quem é egoísta e
mesquinha. As obrigamos à se justificar o tempo todo, explicando os motivos
pelos quais decidiram não ser mães, como se fossem ser incompletas, frustradas
e não realizadas como consequência desta escolha. Mesmo em um tempo em que está
escolha é cada vez mais frequente, elas ainda são quase que condenadas como as
bruxas queimadas nas fogueiras da inquisição.
Quando alimentamos o mito do instinto materno jogamos
a empatia fora. Sim, mesmo aqueles que se dizem mais empáticos.
Precisamos olhar para a maternidade como um tema a
ser discutido e pensado. Mãe como alguém de deseja maternar e assim o faz. E
mulher como alguém que pode ou não desejar ser mãe.
Não estamos aqui dizendo que o amor materno não existe. Estamos é fazendo um convite para pensar a maternidade e tudo o que a envolve de uma outra ótica.
Mais braços estendidos e menos dedos apontados.
Isso é o que se espera em tempos que tanto se prega empatia.
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