Em frente

25 de jun. de 2015



Recentemente fui acordada com a notícia de havíamos sido roubados. Na ocasião, me foram levados muitos pertences e entre eles meu computador... com boa parte de minha vida nele guardados... entre meus guardados estavam minhas fotos, músicas que amava e ouvia quase que diariamente, meus estudos e meus escritos. 

Não! Eu não tinha cópia de tudo o que nele estava guardado, a não ser em meus pensamentos. 

E Sim! Eu sei que computadores podem estragar e não mais ser possível recuperar os arquivos ali armazenados, ou ainda podem ser roubados e os arquivos levados por um estranho. 

Mas na correria do cotidiano, acabamos negligenciando alguns detalhes, que por vezes não são tão detalhes assim. 

Adiamos o momento de fazer cópias de segurança. Adiamos viagens, compromissos, abraços e momentos de confraternização com os que amamos. Adiamos cafés com amigos, visitas e jantares. Adiamos sorrisos. Deixamos, muitas vezes, de dizer e de fazer o que realmente importa, por que acreditamos que poderemos fazer isso logo depois, ou ainda por que a correria meio que “nos obriga” a agir assim. Adiamos o que não pode ser adiado, ou ao menos não deveria ser adiado, porque o trabalho exige, porque a sociedade exige, porque temos a certeza (mesmo que falsa) de que depois poderemos fazer.

Acabamos sendo relapsos, tratando como detalhe, o que na verdade deveria ser prioridade.

Diante do roubo fui tomada por um misto de raiva, insegurança e impotência, que provavelmente seja comum entre os que vivenciam tal situação. Mais uma vez tive que parar, tomar folego e erguer a cabeça, pois assim aprendi que as coisas tem de ser enfrentadas. E ainda no processo de elaboração de todo o ocorrido, percebo que das brechas e marcas que os ladrões deixaram pude absorver alguns ensinamentos. 

Eles tiveram o cuidado de deixar algumas coisas arrumadas do lado de fora como se fossem, em seguida, voltar para buscar, mesmo que não tivessem certeza de que voltariam, e ainda tiveram o cuidado de fechar a porta ao sair. Tiveram um cuidado com seus interesses que talvez me falte em algumas ocasiões. Deixaram um rastro, uma marca, um sinal de que tiveram ali, quebrando muita coisa e deixando coisas jogadas e espalhadas pelo chão.

Senti-me invadida ao me deparar com um cenário que mostrava claramente que mexeram nas minhas coisas, ao perceber que levaram os meus guardados. Mas me senti também incomodada por me deparar com muitas de minhas fraquezas, vi-me obrigada a pensar sobre coisas que talvez estivessem guardadas, e que tivessem sido deixadas para depois. 

Percebi que preciso de mais cuidado, de cuidado imediato, comigo, com minhas coisas e com aqueles que amo. Percebi que preciso de ações, de ações imediatas, pois talvez não de tempo de agir depois. Percebi que preciso dizer, e dizer na hora, o que penso e o que sinto. Percebi que preciso, e preciso agora.

Por fim venho ainda me questionando: Quais os rastros e marcas que venho deixando? O que venho deixando para “buscar” depois?

Das portas arrombadas, mais do que coisas levadas, ficam marcas, questionamentos, reflexões e novas ações

Postar um comentário