Todos os anos tem três
datas que inundam as vitrines de flores, e as mídias e redes sociais de
artigos, fotos bonitas e declarações. O dia internacional da mulher (que
diga-se de passagem tem sua origem e verdadeiro significado sufocados pelos
apelos comerciais), o dia das mães (data em que toda mãe vira heroína, e mais
uma vez o comércio faz a festa), e o dia dos namorados (onde todos os relacionamentos
são pintados como perfeitos, e o amor é medido pelo valor investido no presente
e pelo número de rosas que compõe o buque). Gente não vou ser hipócrita e dizer
que não gosto de um regalo aqui outro
ali, de uma surpresa ou de uma declaração com palavras sinceras. Mas sabemos
que isso não é tudo!
Ser mulher, não é de
hoje, é um desafio. Uma batalha diária. Temos que provar a todo tempo nossas
competências, e brigar por respeito. Será que isso se apaga diante de flores?
Se és mulher e escolhe
investir em tua formação e tua carreira, para depois pensar se vai querer
encarar um casamento, filhos, cachorro, gato, papagaio... é crucificada por que
“mulher tem que ter família”.
Se és mulher, escolheu
investir em tua formação e carreira, e casou... é vista como uma “bomba relógio” (expressão utilizada por
Ana Paula Passareli em um texto fantástico – cujo link compartilho abaixo para
quem desejar conhecer), pois pode ter um filho a qualquer momento e isso,
(pasmem) aos olhos de muitos, vai te prejudicar muito como profissional, ou
ainda vai terminar com tua carreira.
Se és mulher,
profissional, e tem filhos (casada ou não), também utilizando uma expressão do
mesmo texto de Passareli, passa a ser a “artilharia
inteira”, já que deixou de correr o risco eminente e passou a ter o
“problema real”.
Se és mulher e escolheu
casar, construir tua família e ser do lar... é julgada, pois é um absurdo não
querer trabalhar fora e ser reconhecida como uma profissional.
Se és mulher e escolhe
não ter filhos... é vista como uma aberração, já que toda mulher nasce com o
instinto materno. E se escolhe ter filhos, não pode falhar na criação deles,
não pode te sentir insegura em momento algum, e não pode cansar... já que claro
nasceu com o instinto materno e isso garante que sabe tudo o que precisa fazer.
Se és mulher e dirige...
é apontada como “o perigo constante”, já que toda mulher dirige mal. Mas se és
mulher e não dirige... é vista como acomodada e dependente, já que precisa de
outro para tudo.
Se és mulher e bebe... é
a mulher que não sabe seu papel, já que é feio mulher beber. Mas se és mulher e
não bebe, é igualmente julgada, pois não é social.
Se és mulher e vaidosa...
é condenada, ou porque é fútil ou porque isso enriquece o estereótipo de mulher
objeto. Mas se és mulher e não é vaidosa... é condenada ou porque não ser
vaidosa é sinônimo de relaxamento, ou porque “parece homem”.
E os estereótipos e
discursos prontos (ultrapassados, e ridículos) não param por aí. Tem ainda os:
“Isso é profissão de homem, e aquilo profissão de mulher”; “Em casa a mulher é
responsável pelos afazeres domésticos e cuidado com os filhos, e o homem ajuda
quando pode (ou quando quer), pois seu papel é prover sustento”; “Mulher gosta
de novela e filme água com açúcar. Homem gosta de carro e futebol”.
E por aí vai...
Para o mundo por que eu
quero descer!
Lamentavelmente os
discursos acima não são exclusividade de poucos, muito menos exclusividade de
homens. Escuto e vejo, com frequência, mulheres fazendo isso também (inclusive
mulheres que se dizem feministas ferrenhas).
Sou mulher, profissional,
esposa e mãe. Amo minha profissão, invisto em minha formação, e tenho planos
para crescimento profissional. Tenho um marido pelo qual me apaixono todos os
dias, que sabe que seu papel não é me ajudar com as coisas da casa e com os
cuidados com nosso filho, sabe que seu papel é fazer tudo isso junto comigo e que
isso não é favor, é simplesmente parte de seu papel, assim como o meu. Tenho um
filho maravilhoso, o qual crio com todo o amor e dedicação que ele merece, e
não é, de forma alguma, empecilho para nada em minha vida. Fiz escolhas, e
mergulho de cabeça em cada um de meus papeis. A quem diga que sou uma mulher de
sorte por isso, mas eu prefiro dizer que fui feliz em minhas escolhas.
Vamos deixar o julgamento
e os dedos apontados de lado, e vamos respeitar as escolhas de cada mulher.
Vamos parar de hipocrisia de lado e vamos reconhecer que mulher não é super-heroína,
e que se dá conta de mil e um papéis é porque se esforça (e muito), é porque se
desdobra para fazer tudo (e que muitas vezes poderia ser menos exaustivo se
tivesse quem de fato “pegasse junto”, ao invés de achar que tem que ajudar de
vez em quando). Vamos tirar as vendas dos olhos e vamos admitir que há sim
discriminação. Vamos parar de mimimi, e vamos tomar nossos lugares e assumir
nossos papéis sem achar que somos mais ou menos que aqueles que fizeram
escolhas diferentes das nossas, e/ou que são de um sexo diferente do da gente.
Não vejo mulheres e
homens como iguais, pelo contrário os vejo como bem diferentes, e assim como
cada sujeito cheios de particularidades, mas o respeito deve ser igual. Mulheres
e homens merecem e devem ser respeitados em suas diferenças, e em suas
escolhas. Não há um manual de instruções, uma cartilha com certo e errado, ou
com regras do tipo “isso é coisa de mulher, isso é coisa de homem”. O que há
são seres humanos que merecem respeito.
Vamos colocar o respeito
acima de qualquer coisa e não mais será necessário presentes para amenizar
culpa, e frases bonitas para alívio de consciência. Presentes serão dados sem
querer nada em troca, declarações serão sinceras (e não mais para que os outros
pensem como somos bonzinhos), e o reconhecimento será diário. Simples assim!
Em tempo, segue o link para o texto mencionado: https://www.linkedin.com/pulse/at%C3%A9-quando-mulheres-precisar%C3%A3o-escolher-entre-e-ana-paula-passarelli
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