A chegada dos filhos vira nossa vida de cabeça para baixo, uma reviravolta de verdade, mesmo quando são filhos planejados. É impossível mensurar, antes da chegada deles, o quanto, de fato, isso vai nos impactar.
Moldamos a casa para recebê-los e à
medida que crescem vamos reformulando os detalhes para acompanhar suas
descobertas e conquistas, mantendo-os seguros.
Nossa rotina exige flexibilidade, e
quando se trabalha fora o jogo de cintura tem ser ainda maior.
O orçamento também precisa ser revisado
constantemente... e fazendo aqui um parênteses alguém tem uma explicação
convincente para me dar sobre o porque de o preço de roupas e calçados de
crianças ser inversamente proporcional ao tamanho das peças?
Revivemos nossas relações familiares.
Nos transformamos como pessoas!
Quando me perguntam se vale a pena ter
filhos, respondo sem pestanejar: se realmente deseja, tenha! É muito bom, é a
chance de experimentar um amor único e incondicional, um amor indescritível. É
aprender e se emocionar todos os dias. Cada coisinha nova vai mostrar o quanto
vale a pena. No entanto, sim, tem um lado que é difícil. Como em tudo na vida
nem tudo são flores.
Mas é aí que descobrimos uma
cumplicidade que antes desconhecíamos: a cumplicidade entre os que tem filhos!
E isso vai além de cumplicidade com aqueles com os quais são teus amigos ou
familiares com filhos. Falo de uma cumplicidade que dispensa palavras, ela se
dá no olhar muitas vezes.
No final de semana passado vivenciei,
mais uma vez, uma cena, que sempre que acontece me faz refletir e agradecer por
está cumplicidade. Estava passeando em um shopping com meu esposo e meu filho,
e paramos para ver uma vitrine de brinquedos, vimos ali um casal com uma menina
pequena chorando e gritando... cena clássica né?! Pois bem eles estavam
constrangidos e ela seguia chorando, mesmo com o pai tentando lhe explicar que
não poderia levar aquele brinquedo porque era da loja. Olhei para aquela mãe e
trocamos um sorriso, daqueles em que os lábios se movem discretamente, mas
nossos olhos diziam: eu te entendo, sinta-se abraçada!
Antes de ter filho, via as crianças
dando chiliques em lugares e públicos e pensava: meus filhos não vão fazer
isso.
Antes de ter filho, via mães e pais,
“armando tenda de circo” para convencer seus filhos a comer e pensava: meus
filhos não vão fazer isso.
Antes de ter filho, eu dominava as
teorias, mas não fazia ideia do quanto a prática exige adaptação quando se
tratam de crianças de verdade e não de modelos perfeitos descritos em livros
que ditam as regras do “educando meninos, educando meninas, e por aí vai...”.
Antes de ter filho, percebo hoje, o quão
carregado de julgamento foram meus pensamentos e olhares sobre a realidade
daqueles que tinham crianças em casa.
Mordi a língua, ou como ouvi uma
expressão dia desses: “cuspi para cima e caiu na testa”.
Essa cumplicidade te permite conversar
com outras pessoas que tem filhos e dizer sem medo: estou cansada, queria
dormir ao menos uma noite sem interrupções (sejam por mamadas, por pesadelos,
por frio...). Quando uma mãe ou um pai diz isso à alguém que não tem filhos o
pensamento ou a resposta, normalmente, é “teve filhos porque quis” ou ainda
pior, à os que acham que tu não ama mais teus filhos e por isso se queixa de
cansaço. Mas os que tem filhos escutam isso, entendendo exatamente o que
sentes. Amamos, e muito, mas continuamos sendo humanos com uma dose limitada de
energia e carregados de outros sentimentos além do amor também!
Essa cumplicidade te permite olhar com
ternura aos pais que “armam tenda de circo” e que enfrentam momentos de birra e
chiliques em público, porque sabes que tem dias que por melhor que seu filho
coma normalmente, ele vai se recusar a comer qualquer coisa; que por mais
educado que ele seja, ele vai tentar te mostrar que ele tem vontades também; porque
se ainda não tinha se dado conta os chocolates e embalagens destinadas às
crianças ficam bem na altura dos olhos delas; e ainda por que sabes que vida de
uma criança, desde que ela nasce, é marcada por “fases, crises, picos e saltos
de crescimento e desenvolvimento” e isso provoca giros de 360º na vida que
parecia estar se aprumando.
Essa cumplicidade faz com que entenda
completamente aqueles que desmarcam compromissos em cima da hora por que o
filho começou a ter febre de uma hora para outra, literalmente, estava
brincando e 5 minutos depois o termômetro passa da escala aceitável. E entende
também aqueles que acabam atrasando porque que cada saída de casa exige todo um
ritual, o qual muitas vezes acaba demorando mais do que o previsto. É uma
fralda que precisa ser trocada na hora de sair, é uma “louca” necessidade de
mamar só porque viu a mamadeira sendo colocada na bolsa, é um brinquedo que
precisa ser encontrado naquele momento...
É a cumplicidade que permite manterem um
diálogo entre pessoas adultas mesmo ao som de canções infantis ou desenhos
animados. Pegar carona em carros que tem além de cadeirinhas de segurança, tem chocolate
e farelos sobre os bancos traseiros. Ou ainda empurrar o brinquedo para o
cantinho para abrir espaço na sala que é mundo de faz de conta.
É a cumplicidade que te faz sentir
acolhido quando ouve relatos que te fazem pensar “que bom que não é só comigo”.
É uma cumplicidade que te faz sentir abraçado mesmo com um olhar.
Peço desculpas àqueles que antes
julguei, e os agradeço pela cumplicidade que temos hoje! E aos que ainda não
tem filhos, ou optaram por não ter, lhes entendo, mas tentem não julgar
realidades tão diferentes.
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